Água - para todos e para ninguém

Na cosmovisão aimará, a água “Uma” é um ser vivo, um ser sagrado, portanto é necessário cuidar dela, nutri-la, protegê-la e tratá-la com respeito, gerando relações mais recíprocas e respeitosas com a vida complexa da água.

Na cultura aimará, há lendas de guerreiros que sobem ao topo das montanhas e lutam contra raios e granizo, que muitas vezes destroem suas plantações. Na cosmovisão andina, considera-se que a água sente, tem força e se revela quando se irrita, por isso é necessário dialogar com ela para uma vida equilibrada.

Sendo a água um ser sagrado para o mundo andino, ela também é agradecida com oferendas “Wajtas” em aimará, para a Pachamama (Mãe Terra), com as quais se agradece pela chuva em épocas de seca e por não enviar granizo.

A busca por tesouros subterrâneos levou o homem a desgastar a terra e impedir o livre fluxo de água, poluindo-a e impedindo seu retorno.

A água é vida, mas não apenas como um elemento líquido vital para consumo; para outros seres vivos, ela significa o espaço que eles habitam, onde a vida é criada e onde um equilíbrio é gerado.

A conexão com a memória da água não é para perpetuar sua forma, mas para apreciar a efemeridade de sua presença e reavaliar cada forma de sua existência além dos usos que damos a ela.

A água nos mantém em harmonia e movimento com o cosmos, nos dá visualmente o mais belo de sua criatividade, flui, nutre e hidrata esse corpo vivo e natural que chamamos de Pachamama, -Mãe Terra- em aimará.

Para a cosmovisão andina, a água, a partir do conceito de “Ser Vivo”, também é considerada como um ser de conexão com outros planos deste mundo, denominada (A Trilogia Divina Andina), composta de três aspectos ou planos. Em sua representação do cosmos “Hanan Pacha” ou o (mundo celestial ou supraterrestre acima) “Kay Pacha” ou o mundo do aqui e agora (homens, animais e plantas) “Uku Pacha” ou o mundo abaixo (mortos, não nascidos e doenças). A água, em seus diferentes estados, transita por todos esses planos e serve como uma ponte de comunicação entre eles. Essas formas de ligação nos permitem identificar os diferentes propósitos e identidades da água.

As lagoas, muitas vezes localizadas em lugares cerimoniais na cidade de La Paz, são consideradas “Mama Qutas” – mães protetoras – em aimará. Elas não são apenas reservatórios de água para as comunidades, mas também estão cheias de energia positiva que representa o sangue da natureza e protege o território. Temos que nos conscientizar de que dependemos muito mais da água do que ela de nós, e a única coisa que a água espera de nós é que a ajudemos a continuar vivendo, mudando as formas como a concebemos e nos relacionamos com ela.

Água, presença e ausência

O que é realmente a água para nós, para além de um recurso hídrico que assegura a vida e a produção de alimentos? Temos outro tipo de relação com ela ou vemo-la apenas como um líquido vital para consumo?
Temos outro tipo de relação com ela ou vemo-la apenas como um líquido vital para consumo? Neste projeto tento abrir os meus sentidos para explorar o vasto simbolismo que a água tem no nosso quotidiano e as práticas que moldam a nossa relação com todas as formas e estados em que este elemento vital se manifesta, emana, transforma e desaparece.