Guardiões da Memória: Os Yawalapiti, o Kuarup e a Resistência no Xingu
Em meio à vastidão do Parque Indígena do Xingu, no coração do Brasil, os Yawalapiti persistem como guardiões de uma memória ancestral. Este ensaio fotográfico mergulha na intimidade do povo Yawalapiti e em seu papel vital na preservação do Kuarup, o ritual fúnebre que homenageia os mortos ilustres e reafirma os laços culturais entre os povos do Xingu.
Mais do que uma cerimônia, o Kuarup é um ato de resistência. Nele, os vivos dialogam com os ancestrais, reafirmam sua identidade e enfrentam, com dignidade, a dor da perda. Mas, hoje, o que está em jogo não é apenas a memória de quem se foi — é o futuro de quem permanece.
As imagens deste ensaio revelam, com respeito e proximidade, não só a força espiritual do Kuarup, mas também os impactos crescentes das ameaças contemporâneas: a invasão de terras, o garimpo ilegal, o desmatamento e o avanço de políticas que fragilizam os direitos indígenas. A pandemia da COVID-19, que atingiu duramente as comunidades do Xingu, deixou marcas profundas, ampliando vulnerabilidades históricas.
Através dos rostos pintados, dos cantos sagrados, das danças coletivas e do luto transformado em rito, este trabalho busca documentar não apenas uma tradição milenar, mas uma realidade em constante disputa — entre a preservação e o esquecimento, entre o território e a exploração, entre a vida e a ameaça.
Este ensaio é um convite à escuta. Uma tentativa de aproximar olhares urbanos de uma sabedoria que resiste, mesmo quando tudo à sua volta parece conspirar contra sua permanência. Porque enquanto houver Kuarup, haverá memória. E enquanto houver Yawalapiti, haverá esperança.