São Paulo, Brasil. 10 de março de 2020. Ray Para Poty, um guerreiro indígena, é abençoado por um xamã Guarani antes de enfrentar a Polícia Militar de São Paulo em um possível confronto para proteger o território Jaraguá da construção de dezenas de prédios residenciais de vários andares. *Esta imagem e sua reprodução foram feitas com o consentimento informado da pessoa fotografada, de sua família e da comunidade Guarani-mbyá. Descrição do projeto A comunidade indígena Guarani Mbyá preserva sua espiritualidade na menor terra indígena do Brasil, situada no coração da maior megalópole das Américas. Em 1500, durante a invasão portuguesa, os Guarani habitavam um vasto território que se estendia da costa brasileira até o Rio da Prata, na Argentina e no Uruguai. Suas terras consistiam em centenas de aldeias prósperas, especializadas em agricultura e pecuária. Desalojados, escravizados e catequizados, milhares foram forçados a trabalhar nas plantações de São Paulo até meados do século XIX, contribuindo para o crescimento da colônia e da cidade como um centro global. Hoje, sob a pressão da expansão urbana, essa comunidade representa um microcosmo da crise climática global. Cercados por 22 milhões de pessoas, eles são os guardiões de um dos últimos remanescentes de floresta tropical no planalto que deu origem à megalópole. Eles protegem o Pico do Jaraguá — o ponto mais alto da cidade, com quase 400 hectares de biodiversidade. No entanto, seu território formalmente reconhecido tem apenas 1,8 hectares. Apesar dos desafios implacáveis
São Paulo, Brasil. 23 de agosto de 2023. Um incêndio florestal atinge a Terra Indígena Guarani no Pico do Jaraguá. Três anos após um incêndio histórico em 2020, a brigada de combate a incêndios Guarani, vestida com trajes amarelos, responde rapidamente para conter os focos. Esses incêndios estão se tornando cada vez mais frequentes, alimentados pelo aumento das temperaturas devido ao aquecimento global, ameaçando todas as nove aldeias ao redor do pico.
São Paulo, Brasil. 7 de março de 2020. Uma criança guarani nada em um rio próximo à sua aldeia, um lugar onde seus pais e avós costumavam nadar. Essa fonte vital de água agora está sendo desviada para tubulações, à medida que a expansão urbana e o desenvolvimento imobiliário de São Paulo invadem seu território.
São Paulo, Brasil. 26 de outubro de 2023. Rafael Kaje, 24 anos, é um artista LGBT e TikToker com milhares de seguidores da aldeia Pyau. Em suas redes sociais, ele compartilha conteúdos que destacam o cotidiano da comunidade Guarani e exploram o impacto da expansão urbana em sua cultura, desafiando estereótipos e equívocos sobre seu povo e seu modo de vida.
São Paulo, Brasil. 25 de junho de 2021. A comunidade Guarani ocupa a Rodovia Bandeirantes, com 10 faixas, em protesto contra um projeto de lei que pode tirar suas terras no Pico do Jaraguá. Essa importante rodovia, que atravessa seu território, é uma das maiores do país. A manifestação interrompe o tráfego e chama a atenção nacional.
São Paulo, Brasil. 21 de junho de 2020. Thiago Karaí Kekupe, um jovem chefe Guarani Mbya, combate um incêndio perto da aldeia de Itakupe ao lado de seus companheiros. Durante este incêndio histórico de origem desconhecida, que consome quase 18 hectares de floresta, os Guarani trabalham incansavelmente por horas, apesar de não terem treinamento técnico ou equipamento adequado.
São Paulo, Brasil. 24 de junho de 2020. Manuela Vidal, 6 anos, moradora da aldeia de Itakupé, em São Paulo, observa as consequências de um incêndio devastador que assolou terras guaranis.
São Paulo, Brasil. 30 de junho de 2021. Anderson Vilar Martim, 35, um guerreiro guarani, hasteia uma bandeira feita de plástico descartado no cume do Pico do Jaraguá, o ponto geográfico mais alto de São Paulo. Juntamente com centenas de indígenas de aldeias próximas no Território Indígena do Jaraguá, o protesto tem como objetivo interromper os sinais de telefone e televisão, destacando a crescente ameaça legislativa aos seus direitos territoriais.
São Paulo, Brasil. 14 de agosto de 2020. Um grupo de jovens Guarani da aldeia Pyau joga futebol durante o isolamento social da pandemia. No topo, a Rodovia Bandeirantes — batizada em homenagem aos colonizadores portugueses e seus descendentes em São Paulo — corta a paisagem. Construída na década de 2000, a rodovia fragmentou seu território e criou uma barreira biológica que interrompe o movimento das espécies da vida selvagem.
São Paulo, Brasil. 15 de agosto de 2020. Crianças Guarani Mbya brincam na aldeia Pyau, em São Paulo. A escola Guarani em Jaraguá é bicultural, oferecendo um currículo que combina o conhecimento ancestral indígena com a cultura ocidental. *Esta imagem e sua reprodução foram acordadas com o consentimento total das crianças, suas famílias e comunidade.
São Paulo, Brasil. 13 de março de 2024. Uma preguiça desorientada é resgatada por um grupo de indígenas Guarani Mbya enquanto tentava atravessar a Rodovia Bandeirantes, na borda da Terra Indígena Jaraguá. Esta foi a segunda preguiça resgatada em uma situação semelhante em menos de um mês na aldeia de Pindomirim.
São Paulo, Brasil. 11 de agosto de 2020. Uma árvore queimada por um incêndio florestal na Terra Indígena Jaraguá, perto da aldeia de Itakupe. Líderes guaranis suspeitam que os incêndios possam ter sido provocados deliberadamente para promover a expansão urbana.
São Paulo, Brasil. 7 de março de 2020. Uma mãe guarani dá banho em seu filho em um rio próximo à aldeia Pyau, na Terra Indígena Jaraguá.
Sorocaba, Brasil. 21 de agosto de 2020. Uma casa guarani ergue-se em meio a uma plantação de eucaliptos na Aldeia Guyra Pepó, situada no interior. O Estado de São Paulo estabelece a Aldeia Guyra Pepó como compensação para a comunidade guarani do Pico do Jaraguá, 20 anos depois que uma estrada dividiu seu território na década de 2000.
São Paulo, Brasil. 19 de agosto de 2020. Emilia Kaxuka, 110 anos, e seu marido passam a tarde do lado de fora de sua casa na aldeia de Itakupe. Emilia é a anciã Guarani mais velha da comunidade. Durante a pandemia, ela buscou refúgio em uma parte mais remota do território Guarani Mbyá, em Jaraguá, distanciando-se da expansão urbana invasiva e da ameaça de contágio. Para Emilia, sua saúde e longevidade são atribuídas à manutenção da dieta tradicional Guarani, baseada em alimentos ancestrais plantados no território Jaraguá, como Avaxi (milho), Jety (batata-doce), Jejy (coração de palma), Manjio (mandioca) e Manduvi (amendoim).
São Paulo, Brasil. 27 de novembro de 2024. Neusa Quadros, 35 anos, líder da aldeia de Pindomirim, posa para uma foto enquanto fuma seu cachimbo Petyngua dentro da casa de oração.
São Paulo, Brasil. 19 de agosto de 2023. O funeral de Brayan Ribeiro da Silva, um jovem guarani de 15 anos que teria sido atropelado por um veículo na Rodovia Bandeirantes, que atravessa a Terra Indígena Jaraguá, em São Paulo. *Esta imagem e sua reprodução foram acordadas com o consentimento total das crianças, suas famílias e comunidade.
São Paulo, Brasil. 12 de dezembro de 2024. Restos de uma fogueira dentro da casa de oração Guarani na aldeia de Pyau.
São Paulo, Brasil. 8 de outubro de 2023. Maysa Kerexu Aquiles Benites, 15 anos, está em trabalho de parto na casa de oração da aldeia de Pindomirim, em São Paulo. O parto não pode ocorrer de acordo com a tradição Guarani, então ela é levada ao hospital mais próximo. No caminho, seu filho nasce na Rodovia Anhanguera. A Anhanguera, outra estrada que atravessa o território deles, é chamada de “Caminho do Diabo” em guarani, pois já foi usada por colonizadores e bandeirantes para caçar e escravizar indígenas.
São Paulo, Brasil. 24 de agosto de 2024. A cidade de São Paulo está envolta em fumaça proveniente da queima das florestas da Amazônia e do Pantanal durante o inverno, criando uma atmosfera nebulosa com um sol alaranjado que, por semanas, obscurece o céu da megacidade. Durante os incêndios, São Paulo ficou classificada como a grande cidade com a pior qualidade do ar em todo o mundo por cinco dias consecutivos, de acordo com a IQAir.
A comunidade indígena guaraní mbyá conserva sua espiritualidade na menor terra indígena do Brasil, situada no coração da maior megalópole da América.
Em 1500, durante a invasão portuguesa, os guaranis habitavam um vasto território que se estendia da costa brasileira até o Rio da Prata, na Argentina e no Uruguai. Suas terras eram formadas por centenas de aldeias prósperas, especializadas em agricultura e pecuária. Desarraigados, escravizados e catequizados, milhares deles foram obrigados a trabalhar nas plantações de São Paulo até meados do século XIX, contribuindo para o auge da colônia e da cidade como centro global.
Hoje, sob a pressão da expansão urbana, essa comunidade encarna um microcosmo da crise climática mundial. Cercados por 22 milhões de pessoas, eles são os guardiões de um dos últimos vestígios de floresta tropical no planalto que deu origem à megalópole. Eles protegem o pico Jaraguá, o ponto mais alto da cidade, com quase 400 hectares de biodiversidade. No entanto, seu território oficialmente reconhecido é de apenas 1,8 hectares. Apesar dos desafios implacáveis, eles mantêm uma profunda conexão com a terra e se erguem como uma forma de resistência contra o impulso do desenvolvimento ocidental em direção à degradação ambiental. As terras indígenas no Brasil perderam apenas 1% da vegetação nativa em 30 anos, em comparação com 20,6% nas áreas privadas.
Como comunidade jovem e em crescimento, eles adotaram a tecnologia, fortalecendo sua presença cultural com uma voz poderosa nas redes sociais. Apesar das provocações da vida urbana, sua prática sagrada e cotidiana continua sendo fumar o cachimbo Petynguá, feito da árvore araucária, que antes era abundante na região e agora está em risco de extinção. A fumaça é uma linguagem sagrada para os guaranis, que conecta o passado, o presente e o futuro, e lhes oferece um canal através do qual se comunicam com suas divindades.
Na encruzilhada entre a selva e o asfalto, onde o ar puro colide com a poluição urbana, os incêndios florestais e as fumaças industriais, sua existência é tanto uma luta espiritual quanto um chamado para repensar radicalmente a vida urbana, um modelo que fratura a existência coletiva e separa a humanidade da Terra. Como comunidad joven y en crecimiento, han adoptado la tecnología, fortaleciendo su presencia cultural con una poderosa voz en las redes sociales. A pesar de las provocaciones de la vida urbana, su práctica sagrada y cotidiana sigue siendo fumar la pipa Petynguá, hecha del árbol de araucaria, que antes abundaba en la región y ahora está en peligro de extinción. El humo es un lenguaje sagrado para los guaraníes, que conecta el pasado, el presente y el futuro, y les ofrece un canal a través del cual se comunican con sus deidades.
En la encrucijada entre la selva y el asfalto, donde el aire limpio choca con la contaminación urbana, los incendios forestales y los humos industriales, su existencia es tanto una lucha espiritual como un llamado a replantearse radicalmente la vida urbana, un modelo que fractura la existencia colectiva y separa a la humanidad de la Tierra.