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Um sonho em azul

O que acontece quando uma cor desaparece?

Um sonho em azul brinca com a possibilidade de um mundo sem azul e com o sonho de voltar a tingi-lo com essa cor.
O azul, cor que expressa a ligação entre o mundo de baixo e o mundo de cima através da representação do reflexo do céu sobre a água das lagoas, é uma cor essencial na tarefa de transmitir a cosmovisão andina que os mantos tradicionais expressam através de suas formas e cores.

O índigo, ou Indigofera tinctoria, foi descoberto em mantos pré-colombianos peruanos que datam de 6200 anos atrás pelo arqueólogo Jeffrey C. Splitstoser, o que demonstra que o Peru foi o primeiro lugar do mundo onde o índigo foi utilizado. No entanto, as mudanças climáticas extinguiram essa cor preciosa do território peruano e, hoje em dia, a única forma de as comunidades andinas conseguirem essa cor é importando-a, ação que rompe com toda a filosofia do trabalho artesanal, que propõe trabalhar a partir do que a terra oferece.

É por isso que as mulheres do grupo de artesãs Pumaqwasin em Chinchero, Peru, empreendem o trabalho de reflorestar esta planta em seu território. Porque para elas, o azul não é um produto, mas parte essencial na tarefa de plasmar suas histórias cotidianas. Por enquanto, com sua ausência, o azul conta as consequências que as mudanças climáticas podem ter nas tradições culturais.

Um sonho em azul é a representação de um desejo coletivo, de criar a partir do que temos, de narrar também a partir das ausências e imaginar como seria um mundo que vai perdendo seus recursos até ficar sem cor.