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Cuidar na ausência

Minha sobrinha Nicole sofre de episódios de dermatite nervosa há oito anos. Da mesma forma, Ximena, uma adolescente de 16 anos, acorda todas as noites com ataques de ansiedade desde os 8 anos de idade. O que essas meninas têm em comum é o trauma pela forma como ficaram órfãs: suas mães foram vítimas de feminicídio quando elas eram muito pequenas. Até o momento, não há registros oficiais; o Estado mexicano desconhece quantos são, onde estão e quem cuida das crianças e adolescentes órfãos por feminicídio em um país que mata 10 mulheres por dia.

Cuidar ante la Ausencia (Cuidar diante da ausência) é uma investigação visual que documenta a onda expansiva de feminicídio no México. Por meio de metodologias participativas, realizo retratos colaborativos em diálogo com famílias de mulheres assassinadas. Usamos motivos rosas como forma de apropriação coletiva e redefinição das cruzes rosas que foram colocadas pela primeira vez em Ciudad Juárez quando centenas de mulheres foram assassinadas com impunidade há 30 anos. Apelamos para uma estética da ternura, onde a cor rosa se torna uma figura narrativa que dá conta das sequelas: o trauma transgeracional e os impactos psicossociais do feminicídio nas crianças órfãs e nas mulheres que ficam sob seus cuidados.