O Menino Deus Negro nasceu em Féria

A “Estrela do Oriente” Melany Márquez, 9 anos, posa para um retrato em Quinamayó, departamento de Valle del Cauca, Colômbia, em 18 de fevereiro de 2023. Jaír F. Coll por The New York Times

Os padrinhos seguram a cesta do Menino Jesus Negro durante a procissão de Natal em Quinamayó, departamento de Valle del Cauca, Colômbia, em 18 de fevereiro de 2023. Jaír F. Coll por The New York Times

Anjos e “Las Indias” durante a procissão de Natal em Quinamayó, departamento de Valle del Cauca, Colômbia, em 18 de fevereiro de 2023. Jaír F. Coll por The New York Times

O grupo de dança folclórica de Quinamayó dança durante as celebrações de Natal da Sexta Cultural de Quinamayó em Quinamayó, departamento de Valle del Cauca, Colômbia, em 18 de fevereiro de 2023. Jaír F. Coll por The New York Times

Sarahy Andrea Peña, 17 anos, é uma das madrinhas do Menino Jesus Negro, em 14 de março de 2021. Seu vestido é uma referência à festa “Quinceañeras”, uma tradição que acontece em países latino-americanos como Cuba, Colômbia ou México e celebra a entrada na vida adulta das mulheres nessa idade (15).

(Da esquerda para a direita) Luz Nelly Balanta, 58, Mirna Rodríguez, 58, e Luciala Balanta Peña, 57, são algumas das mulheres que lideram a realização do Natal em Quinamayó. Na foto, elas aguardam sua vez de participar de uma gravação televisiva da celebração, em 14 de março de 2021.

Uma pintura da Sagrada Família está pendurada na frente de uma das casas mais antigas de Quinamayó, feita de pau a pique, em 13 de março de 2022.

Óscar Zamora, 35 anos, é membro da ‘Ecos del Tambor’ (Ecos do tambor), da comunidade vizinha de Robles. 16 de julho de 2022.

Pessoas dançam um juga em frente a fogos de artifício em Quinamayó, departamento de Valle del Cauca, Colômbia, em 18 de fevereiro de 2023. Jaír F. Coll por The New York Times

Gustavo Carabalí, 25 anos, no meio de uma multidão durante as celebrações tradicionais em Quinamayó, departamento de Valle del Cauca, Colômbia, em 8 de fevereiro de 2023. Jaír F. Coll por The New York Times

Quinamayó é uma comunidade afro-colombiana localizada no sul do departamento de Valle del Cauca. Na altura do tráfico de escravos (século XVI-1851), os seus antepassados não puderam conservar qualquer expressão cultural. Muitas tradições tiveram de ser adaptadas como forma de expressar dignidade e resistência.

Foi o caso do Natal, que é celebrado 45 dias após a data tradicional do nascimento de Jesus, o tempo que a Virgem Maria levou para descansar após o parto, resultando em meados de fevereiro, que era também o período de descanso das pessoas escravizadas.

O feriado foi preservado por quase 200 anos e quando chega a hora de comemorá-lo, é em torno do nascimento do Menino Deus Negro. Para ele, as crianças vestem-se de personagens bíblicas, as mulheres cantam alabaos e as pessoas reúnem-se para dançar o juga, um género musical indígena do povo afro-colombiano.

A Colômbia cresceu sob a ideia colonialista de “melhorar a raça”, como se os afro-colombianos fossem uma população a ser corrigida. E hoje, o racismo manifesta-se em comentários discriminatórios na rua ou nas redes sociais. Os habitantes de Quinamayó lutam contra isso, orgulhando-se das suas raízes e manifestando um sincretismo que inverte as formas tradicionais de entender o catolicismo.