Jaidë
A crise de suicídios entre as comunidades indígenas da Colômbia atingiu níveis alarmantes, com um impacto particular no povo Emberá do Chocó. Uma combinação de conflito armado, deslocamento forçado, perda de meios de subsistência e violência doméstica criou um estado de desesperança que levou a um aumento preocupante de mortes autoinfligidas.
Em Bojayá, os registros mostram uma tendência crescente. Entre 2015 e 2020, foram registrados 15 suicídios, mas entre 2021 e 2023 o número disparou para 41, com mais de 400 tentativas. Em 2024, foram registrados pelo menos 12 casos adicionais, o que ressalta a persistência do problema. Na comunidade de Unión Baquiasa, desde 2021 foram documentadas 17 tentativas de suicídio e quatro mortes, enquanto em Puerto Antioquia foram registradas mais de 15 tentativas e uma morte somente em 2023.
Por trás desses números estão as histórias de jovens que tomaram decisões extremas em meio a um contexto de deslocamento e violência. Em Puerto Antioquia, Yadira Birry, de 16 anos, tirou a própria vida em 7 de abril de 2023, enquanto Liria Cheito sobreviveu a uma tentativa de suicídio no mesmo dia. Em Unión Baquiasa, Yameli Numasa, de 17 anos, morreu em dezembro de 2021, enquanto Jarlison Ñameson, de 29, tentou se suicidar no mesmo período. Mais recentemente, Luisa Ignacia Chamorro, de 17 anos, tentou tirar a própria vida duas vezes em 2024 e 2025.
O fenômeno não se limita aos territórios indígenas. Em Bogotá, milhares de Emberá foram deslocados pela violência, mas as condições de vida na capital estão longe de representar uma solução. Cerca de 2.251 indígenas vivem em abrigos temporários em áreas como o Parque Nacional, La Rioja e o Parque La Florida. No edifício La Rioja, um espaço projetado para 120 pessoas, atualmente residem mais de 1.200, gerando uma grave superlotação. Neste ambiente, também aumentaram as tentativas de suicídio, com casos como os de Jessi e Ahitana, duas mulheres Emberá que enfrentaram condições extremas.
A crise de saúde mental nessas comunidades continua recebendo atenção insuficiente. Embora organizações humanitárias tenham alertado sobre a situação, a resposta do Estado tem sido limitada. A falta de acesso a atendimento psicológico, somada às condições precárias em que vivem muitas dessas famílias, torna urgente uma intervenção integral.