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Quando o céu está rosado, não me arrependo de nada.

“Quando o céu é rosa, não me arrependo de nada” é um trabalho em andamento que investiga o abuso sexual intrafamiliar dentro da minha linhagem materna e questiona como o trauma se transmite através das gerações. Este projeto surgiu da minha própria experiência infantil e se aprofundou quando descobri que outras mulheres da minha família nuclear haviam sofrido abusos semelhantes — levando-me a questionar se essa “ferida” pode ser herdada e como as famílias mantêm silêncios tão devastadores.
Meu processo começa com uma extensa pesquisa antes de construir qualquer narrativa. Eu investigo meus arquivos pessoais e familiares, exploro espaços na casa da família e estudo literatura sobre como o abuso sexual impacta a formação da identidade. Estou interessada em entender por que essa violência ocorre e como o segredo prejudica nossos relacionamentos. Também investigo o panorama político peruano em relação ao abuso familiar — as complexidades legais e emocionais de acusar alguém da sua própria família.
Trabalho com meios mistos — fotografia, materiais de arquivo, desenhos, vídeo, textos e colagens — porque essas histórias complexas exigem múltiplas linguagens visuais. Concentro-me na coesão narrativa mais do que em peças individuais. Narrativamente, posiciono-me como protagonista, começando pela minha infância, porque foi aí que ocorreu o abuso.

A história se desenvolve através da minha origem andina e das outras mulheres da minha família com experiências semelhantes. Essa estrutura revela como estamos conectadas não apenas pelo que aconteceu conosco, mas pelas perguntas difíceis que nos fazemos.


Este trabalho aborda um tema universal. Por meio de conversas com sobreviventes, entendo que carregamos perguntas semelhantes sobre se falar antes poderia ter evitado ciclos de abuso. Compartilhamos a experiência do trauma e como ele remodela nossa compreensão de família, confiança e silêncio.
Embora não pretenda responder às perguntas sobre trauma, memória ou herança, espero promover a conversa sobre esse tema mundial. Acredito que quanto mais falarmos sobre essas experiências silenciadas, menos segredos serão mantidos. Aprendi que o trabalho mais convincente surge quando exploramos as histórias mais difíceis de contar.