O peixe morre pela boca
O peixe morre pela boca e, durante vinte anos, o regime de vida que lhes foi imposto pelos paramilitares foi tão temível e cruel que, por capricho de Rodrigo Mercado, vulgo “Cadena”, foi demolida uma escola primária para que deixasse de bloquear a vista para o mar da sua casa, situada no centro daquele lugar. Pablo Escobar, por seu lado, mandou construir hotéis na Isla Palma, enquanto Hernán Vélez, do clã Urdinola, os construiu em Bahía Solano, como estância de veraneio.
O projeto é participativo e interventivo, em que a comunidade é parte ativa na criação das imagens. Os contrastes entre tradições (estados pacíficos ou pacíficos) e pressões armadas (grupos paramilitares e de narcotráfico) são expressos em diferentes acções, paisagens, corpos e objectos. O quotidiano mistura-se com a construção das cenas. Aqui, o ato performativo confunde-se com a oscilação da realidade, como um canto a esse limite indefinido entre o mar e a terra, entre a legalidade e a proibição.
Entre 2016 e 2021, fiz viagens de pesca com meu pai, meu irmão, meu tio e meu primo. Todos nós temos o apelido Escobar. A nossa ligação não tem nada a ver com Pablo, mas tem tudo a ver com o mar, a terra e os seus filhos: Deivis e Federico, amigos desde 1990.