O Juliaca 9 | POY Latam

Demetrio Aroquipa e Dominga Hancco, pais de Jhamileth Aroquipa, vítima do massacre de Juliaca em 9 de janeiro. Os dois pais e suas filhas foram comprar comida perto do aeroporto quando Jhamileth foi atingida por uma bala. Embora seus pais a tenham levado a um centro de saúde e depois a um hospital, Jhamileth morreu aos 17 anos de idade.

Rosa Luque, mãe de Heliot Arizaca, vítima do massacre em Juliaca em 9 de janeiro. Naquele dia, Rosa estava caminhando com vários membros da família, inclusive Heliot, perto do aeroporto. Eles continuaram caminhando e se dispersaram, Heliot foi procurar seu tio, mas ele não voltou. “Naquele momento, a polícia saiu para reprimi-los, por isso atiraram neles daquela maneira. Heliot morreu aos 18 anos de idade.

Teodolinda Almirón, mãe de Baylón Quispe, que foi ferido em 9 de fevereiro por um projétil de arma de fogo. Naquele dia, Teodolinda e Baylón foram comprar um bolo, mas ficaram com medo de se deparar com as manifestações e decidiram tomar um caminho diferente. Quando estavam prestes a retornar, Baylón, de 11 anos, foi atingido por uma bala que danificou seu pé. “Disseram-nos que tínhamos de declarar que não era uma bala, mas um objeto pontiagudo, mas isso não foi possível. Meu filho tem uma bala dentro e fora”.

Vilma Quispe, filha de Marcos Quispe, vítima do massacre em Juliaca em 9 de janeiro. Marcos e Vilma estavam caminhando quando passaram pelo aeroporto e perceberam a repressão que a polícia estava aplicando aos manifestantes. Naquele momento, Marcos tomou a decisão de ir ajudar os cidadãos. “Ele me disse: eu já volto, cinco minutos, mas infelizmente meu pai não voltou”. Ele morreu em decorrência de um ferimento contuso de bala que perfurou seu tórax e cotovelo esquerdo.

Marcelina e Elizabeth Mamani, esposa e irmã de Rúben Mamani, vítima do massacre em Juliaca em 9 de janeiro. Ele estava caminhando quando foi atingido por uma bala de longo alcance. “Quando fomos ao escritório do promotor, eles nos disseram para testemunhar como se fosse uma pedra, mas não o fizemos porque sabíamos que era uma bala.

Rocio Apaza, irmã de Bryan Apaza, vítima do massacre de Juliaca em 9 de janeiro. Bryan estava esperando para encontrar sua mãe depois de sair de uma cabine de internet. Embora não estivesse participando dos protestos, ele foi atingido por uma bala na cabeça, ficou em coma por três dias e morreu. Ele queria ser policial como seu irmão mais velho. No entanto, após seu assassinato, seu irmão pediu demissão do cargo depois de saber que a polícia havia tirado a vida de seu irmão.

Elizabeth Mamani e Jaime Choquequispe, irmã e cunhado de Christian Mamani, vítima do massacre em Juliaca em 9 de janeiro. Depois de assistir a um filme, Christian saiu de casa. Horas depois, sua irmã não sabia de seu paradeiro. As ligações tocaram, mas não houve resposta. Ela começou a se preocupar. Christian havia sido atingido por uma bala que perfurou seu peito.

Javier e Nelly Cayo, irmãos de Roger Cayo, vítima do massacre em Juliaca em 9 de janeiro. Roger trabalhava como mototaxista e, naquele dia, saiu de casa às 9 horas da manhã para ir trabalhar. As horas se passaram e seus irmãos estavam esperando por ele para almoçar, mas ele nunca chegou. Roger havia morrido. A causa: um projétil de arma de fogo de alto alcance.

Hernan Silva estava voltando para sua casa em Juliaca depois de participar de uma reunião familiar em 9 de fevereiro. Para chegar em casa, ele teve que passar pelo aeroporto e foi quando percebeu que a polícia começou a atirar. Ele tropeçou e caiu, e a última coisa de que se lembra é de ter ouvido um tiro e uma explosão. Momentos depois, sua mão foi decepada. Meses após a tragédia, ele ainda não se recuperou.

Puno, Peru. O nono dia em Juliaca nunca mais será o mesmo. As manifestações violentas que ocorreram nessa data em janeiro e fevereiro deste ano deixaram 18 civis mortos e centenas de feridos. Todas as vítimas foram executadas extrajudicialmente pelas forças da lei, muitas das quais nem sequer estavam participando dos protestos contra o governo. De acordo com investigações recentes, as vítimas civis não representavam um perigo iminente à vida ou à segurança da polícia no momento em que foram mortas. Entretanto, apesar de uma ampla gama de evidências em vídeo e fotografia, até o momento ninguém foi considerado culpado ou preso pelos massacres. As famílias dos mortos e feridos estão lutando para garantir que seus casos não sejam esquecidos. Enquanto isso, no Peru, o governo de Dina Boluarte acumulou 50 vítimas de repressão pelas forças da lei e da ordem, sendo esse regime classificado como o segundo maior número de mortes na América Latina durante manifestações sociais desde o ano 2000.

Desde 7 de dezembro de 2022, 50 cidadãos peruanos – na sua maioria indígenas e camponeses – foram executados extrajudicialmente por membros das forças da ordem e mais de um milhar de cidadãos ficaram feridos durante manifestações contra o governo de Dina Boluarte e o Congresso da República.

Em 9 de janeiro e 9 de fevereiro deste ano, na cidade de Juliaca, situada na região de Puno, no sul do Peru, 18 civis foram mortos e centenas ficaram feridos. Todas as vítimas morreram devido a balas ou chumbos disparados por elementos das forças policiais e militares, apesar de a sua utilização ser proibida para o controlo de manifestações.

De acordo com investigações recentes, as vítimas civis não representavam um perigo iminente para a vida ou a integridade dos agentes da autoridade no momento em que foram mortas. Muitas delas nem sequer estavam a participar nos protestos contra o Governo. No entanto, apesar de um vasto leque de provas vídeo e fotográficas do uso excessivo da força, até à data ninguém foi considerado culpado ou detido pelos massacres. As famílias das pessoas mortas e feridas estão a lutar para que os seus casos não sejam esquecidos, e estas são algumas das suas histórias: